terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Luna Crescens



Qual apócrifa sabedoria,
Se me sinto a olhar para infinitas paredes em casas d’água?
Qual boneca de retalhos,
Se entra ela e eu apenas nos separa um espelho?
Qual acústica,
Se no peito, o coração brinca ao contorcionismo?
Qual sincretismo,
Se os amantes e os tolos andam de mãos dadas?
Qual trilho,
Se os caminhos se baralham em críptidos futuros e as difonias de violinos quebrantados
Nos guiam até ao nono círculo do inferno?

Como justificar os meios de Deus ao Homem
Se a leste do Éden tudo fica menos puído e iníquo?
Como oferecer os nomes,
Se ao final de contas, estamos todos nus e não nos envergonhamos?
Como saber qual a meta
Se o nosso titeriteiro continua a entrelaçar os fios?

Que ária cantar,
Se parecemos todos manequins sem boca a olhar o mundo por bolas de sabão?

Como quebrar o inquebrável?

Quantas delas fogem
Encasuladas de doze mil asas de ouro,
Loucas pois, achando que de tanto mentir se hão-de tornar verdade
Todos os disparates de criança.
Tolas! Fugiam apenas com cavalinhos-de-pau,
Achando de si,
Capazes de colher todos os sigillum mágicos!
Capazes de seánces,
Piromancia,
Alomancia,
De dançar com dragões!
Tolas! Que diziam ver o infinito absoluto,
De serem capazes de metempsicoses,
De se transfigurarem em anjos,
De necromancia,
De taumaturgias
Loucas… Pois só Cybele foi mãe de deuses.

Qual corpo,
Qual augúrio,
Qual hermética,
Qual semente,
Qual advinda,
Qual casamento?
Se nos sentamos em tronos de ouro fingido
Ludibriados pela divina comédia
De que na vida não são os passos que contam,
Mas as pegadas impressas…

Qual liturgia,
Se constantemente nos chamam sacrílegos?
Qual rosa,
Se todos os dias despoetizamos tudo o que está á nossa volta?

Existirão mesmo monstros no sótão?
O que está dentro do caleidoscópio?

Girará tudo para o mesmo lado?

Quantos dentes-de-leão cabriolam ao vento?
Quantos sonhos,
Quantas ilusões,
Quantos decibéis perdidos?

Spiritus asper,
Spiritus lenis,
Finjo que sou um eu-lobo,
Galvanizo,
Pintas-me a Sépia.

Heteronímia de mim própria…

Quão forte é essa chama da espada fulgurante
E quão fortes são esses querubins
Se tentamos tão arduamente chegar ao Éden e não conseguimos?

Colchetes
Vendem-nos uma mão-cheia de religiões.
Afinal quem é o alfa e o ómega?

“Tu és pó e ao pó retornarás”.

Onde estão as fotografias?
Quantas identidades?
Onde está o elixir da vida?
Quantos reversos na moeda?
Onde está o encantador de serpentes?
Quantas rodas-vivas na alma?

Esquecer os segredos dos obsoletos livros,
Os olhares imbuídos de um apaixonado,
Esquecer o ciciar do vento,
As borboletas de índigo a voar em compassos lentos,
Esquecer o fado nas ondas,
O ceptro e a coroa,
A escadaria e a ampulheta,
Esquecer o abraço e o sorriso,
Esquecer os olhos… Para quê?
Quantas vezes se tenta esquecer,
Se puxa a corda ao velho coração
E nos apercebemos abruptamente que o mundo é tempo, mito e lembrança?

Pois que se teçam melhor os céus,
Que se contem melhor as estrelas,
Que as gárgulas se desempedernem,
Que as fotografias se expurguem,
Que a primeira juventude volte,
Que haja uma pele nova,
Que a sombra não seja sempre tão repetida,
Que as valquírias escolham melhor,
Que a terra seja quadrada só para experimentar,
Que a árvore do conhecimento do bem e do mal
Deixe de ser demasiado frondosa num dos lados,
Que os hinos sejam de ressurreição,
Que o paraíso não pareça tão ígneo,
Que o caronte não seja tão custoso,
Que as lágrimas parem de ser lameliformes,
Que nos descicatrizem o corpo,
E que a hipnose em que vivemos pare
E deixemos de ser tão parecidos à bela adormecida
Esperando o eterno beijo prometido,
Que se desembaracem as teias dos olhos,
Que as oceânides cantem mais alto,
Que a lua argêntea se dissemine em todo o oceano,
Que larvejem de novo os desejos que tivemos em criança,
Que se petele de novo o lótus branco,
Que se ase de novo a grande Fénix,
Que se vista de novo o vestido noire.

Oh Nephilim de asas de cera,
Pulmão sem ar,
Dependência,
Placebo,
Iridiscência.
Como narciso e eu somos tão parecidos,
Sedento karma,
Perverso e irreligioso…
Fausto não foi o único a vender a alma por conhecimento.


Quantas delas fogem
Encasuladas de doze mil asas de ouro,
Essas loucas ambições minhas…

Templates by Morgana 13 Luas listenning to: divine heresy-rise_of_the_scorned

2 comentários:

Bruno Pereira disse...

uffffffffffffffffffffffff......acabei d ler :P

grandito mas muito muito bom :D. congrats!

Anónimo disse...

susana, tens talento...apesar da extensao dos teus poemas....vais chegar longe!!!!
beijo gui