quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Efémera

Sou apenas um devaneio vogando na espuma das horas,
Um corpo que enlaça o corpo da eternidade
E que, depois, se apaga no imenso vento da escuridão,
Um espectro que divaga nos nocturnos sussurros da vida,
Não tendo senão a noite como muralha protectora.
Sou o sussurro das sombras aprisionadas no além,
Vagueantes no limite do abismo que rasga os mundos,
E o grito dos prisioneiros da fantasmagoria de existir,
O braço que embala o espelho da fé estilhaçada
E a eterna criança da inocência morta.

Sou apenas o lamento do oceano de lágrimas
Que, na noite, brilha vermelho do sangue derramado,
Efémera ilusão de quase fantasia, que, de passagem,
Espalhasse no mundo espectros de um sonho lunar,
Feito miragem de profético oráculo
Afogado na liberdade das almas sem lugar.

Eu sou o mundo que se apaga em cada hora,
O estilhaço de um espelho ainda por criar,
A memória de um tempo pintado a cinza
Nos recantos da pele de um anjo adormecido.
Sou o espólio da morte divinizada em silêncio,
O passado… que não pode regressar.

1 comentário:

Bruno Pereira disse...

frases muito fortes que fazem o poema um mar de emoções...sem palavras...