terça-feira, 12 de maio de 2009


Ao meu avô…

Sombra de gnómon ,
Esse teu relógio de sol tem parca luz.
Quanto do vento já nos acariciou os cabelos?
Quanto da chuva já se vazou em nós?
Quanto do fogo já nos esclareceu o caminho?
Começámos por ser uma larva de alma,
A borboleta que serpenteia no cerúleo.
Fomos também libélula de asas cristalinas
Num meio de céu e oceano.
Fomos a freicha de pirilampos fosforescentes na completa escuridão,
Uma águia soberana e majestosa,
Que olhou em caleidoscópio o mundo por inteiro.
Fomos a coruja que guardou com aprumo os espíritos viandantes,
O cisne encasulado em pulcritude e união.
Fomos a raposa fulva
Que soube desgarrar os obstáculos,
O lobo que marcou a neve…
Vimos pelo diamante puído,
Vestimos as penas,
Fomos clave,
Fomos música!
E o tempo foi passando,
A prímula emurcheceu.
Outrora a orquídea robusta,
Hoje o cravo desbotado.
Lembras-te do sol em tons de açafrão que abrasava naqueles verões?
A ametista puída na minha mão,
Os olhos âmbar,
Os fins de tarde em branco navajo,
A relva esmeraldina e fresca de primavera,
O antigo vestido escarlate,
O retrato a sépia,
Os trigais em oiro…
Lembra-te,
Meu mestre, meu professor.
Que nunca esqueças as vezes em que caminhámos pelo caminho-de-ferro
Sob as estrelas ornadas e as luas antigas.
Essa tua idade provecta
Fez parecer que o tempo passou como um dente-de-leão
Consumindo-se no céu.
Não esqueças o mundo de sonhos,
Lembra-te que foi por ele que vivemos,
Foi por ele que esquecemos a carantonha,
Foi por ele que suámos,
Por ele deixámos o fantascópio e começámos a olhar sem venda.
As coisas que perdemos ou que simplesmente deitámos fora já não importam.
Que ninguém nos culpe
por queremos ser o gnomo, a ondina, o silfo e a salamandra ao mesmo tempo.
É que o tempo ressumou
E poucas vezes tive a coragem de dizer que te amo.
Lazarus- Porcupine Tree

4 comentários:

Aurindo do Érebro disse...

Podia estar aqui com mil e uma palavras que no fundo chegaria a uma conclusão: este poema está carregado de emoção, de sentimento.

É tipo aqueles solos de guitarra com bué feeling xD


O poema está absolutamente lindo (:

Demian disse...

Arrepia, até, a carga emocional presente num poema assim escrito, assim TÃO BEM escrito.

Descobri o blog por acaso, e estou extremamente impressionado com a qualidade, cada vez mais rara neste universo bloguístico onde 95% do que existe não é mais que puro lixo, encontrar disto é, no mínimo, reconfortante.

Grandes música e banda, as que referes no final do post. Uma das minhas (bandas) favoritas, por sinal. Tal como são grandiosas, muitas das que referem nas vossas preferências, com especial destaque, claro está, para os nossos enormes transmontanos ThanatoSchizO, dos quais sou um confesso e incondicional admirador.

Em suma, deixo apenas os meus sinceros parabéns, e votos de que assim continuem. Bookmarked, obviously.

Cumps

acatar disse...

gostei...

Bruno Pereira disse...

só vi este poema hoje...por tudo o que eu sei....arrepiou-me