sábado, 20 de junho de 2009

Conduta de Enganos

Atravessados em cor de espelho a fio de espada,
Nascem do ventre de um crepúsculo deserto
As asas de fogo de um corvo adormecido.

Na sombra de um fragmento o sangue jorra
Como uma nascente brotando das cinzas do abismo
E banha, como um rio de névoa, as fogueiras do deserto
Onde pairam no torpor os embriões de um deus.

Abraçados em mãos de estrela decaída,
Florescem as sementes dos corvos ensanguentados,
Os filhos da imensidade que, sepultados em véus de renúncia,
Incubarão no corpo da mãe da misericórdia
E nascerão cegos perante as brumas do mundo.

Afogados na maré de um sepulcro de obsessão,
Como fantasmas de um corpo no repouso da estaca,
Embalar-se-ão na noite os filhos do crepúsculo
E completarão no lenho do genuflexório
As orações da cruz que sangra o espírito.