Atravessados em cor de espelho a fio de espada,
Nascem do ventre de um crepúsculo deserto
As asas de fogo de um corvo adormecido.
Na sombra de um fragmento o sangue jorra
Como uma nascente brotando das cinzas do abismo
E banha, como um rio de névoa, as fogueiras do deserto
Onde pairam no torpor os embriões de um deus.
Abraçados em mãos de estrela decaída,
Florescem as sementes dos corvos ensanguentados,
Os filhos da imensidade que, sepultados em véus de renúncia,
Incubarão no corpo da mãe da misericórdia
E nascerão cegos perante as brumas do mundo.
Afogados na maré de um sepulcro de obsessão,
Como fantasmas de um corpo no repouso da estaca,
Embalar-se-ão na noite os filhos do crepúsculo
E completarão no lenho do genuflexório
As orações da cruz que sangra o espírito.
sábado, 20 de junho de 2009
terça-feira, 12 de maio de 2009
Ao meu avô…
Sombra de gnómon ,
Esse teu relógio de sol tem parca luz.
Quanto do vento já nos acariciou os cabelos?
Quanto da chuva já se vazou em nós?
Quanto do fogo já nos esclareceu o caminho?
Começámos por ser uma larva de alma,
A borboleta que serpenteia no cerúleo.
Fomos também libélula de asas cristalinas
Num meio de céu e oceano.
Fomos a freicha de pirilampos fosforescentes na completa escuridão,
Uma águia soberana e majestosa,
Que olhou em caleidoscópio o mundo por inteiro.
Fomos a coruja que guardou com aprumo os espíritos viandantes,
O cisne encasulado em pulcritude e união.
Fomos a raposa fulva
Que soube desgarrar os obstáculos,
O lobo que marcou a neve…
Vimos pelo diamante puído,
Vestimos as penas,
Fomos clave,
Fomos música!
E o tempo foi passando,
A prímula emurcheceu.
Outrora a orquídea robusta,
Hoje o cravo desbotado.
Lembras-te do sol em tons de açafrão que abrasava naqueles verões?
A ametista puída na minha mão,
Os olhos âmbar,
Os fins de tarde em branco navajo,
A relva esmeraldina e fresca de primavera,
O antigo vestido escarlate,
O retrato a sépia,
Os trigais em oiro…
Lembra-te,
Meu mestre, meu professor.
Que nunca esqueças as vezes em que caminhámos pelo caminho-de-ferro
Sob as estrelas ornadas e as luas antigas.
Essa tua idade provecta
Fez parecer que o tempo passou como um dente-de-leão
Consumindo-se no céu.
Não esqueças o mundo de sonhos,
Lembra-te que foi por ele que vivemos,
Foi por ele que esquecemos a carantonha,
Foi por ele que suámos,
Por ele deixámos o fantascópio e começámos a olhar sem venda.
As coisas que perdemos ou que simplesmente deitámos fora já não importam.
Que ninguém nos culpe
por queremos ser o gnomo, a ondina, o silfo e a salamandra ao mesmo tempo.
É que o tempo ressumou
E poucas vezes tive a coragem de dizer que te amo.
Sombra de gnómon ,
Esse teu relógio de sol tem parca luz.
Quanto do vento já nos acariciou os cabelos?
Quanto da chuva já se vazou em nós?
Quanto do fogo já nos esclareceu o caminho?
Começámos por ser uma larva de alma,
A borboleta que serpenteia no cerúleo.
Fomos também libélula de asas cristalinas
Num meio de céu e oceano.
Fomos a freicha de pirilampos fosforescentes na completa escuridão,
Uma águia soberana e majestosa,
Que olhou em caleidoscópio o mundo por inteiro.
Fomos a coruja que guardou com aprumo os espíritos viandantes,
O cisne encasulado em pulcritude e união.
Fomos a raposa fulva
Que soube desgarrar os obstáculos,
O lobo que marcou a neve…
Vimos pelo diamante puído,
Vestimos as penas,
Fomos clave,
Fomos música!
E o tempo foi passando,
A prímula emurcheceu.
Outrora a orquídea robusta,
Hoje o cravo desbotado.
Lembras-te do sol em tons de açafrão que abrasava naqueles verões?
A ametista puída na minha mão,
Os olhos âmbar,
Os fins de tarde em branco navajo,
A relva esmeraldina e fresca de primavera,
O antigo vestido escarlate,
O retrato a sépia,
Os trigais em oiro…
Lembra-te,
Meu mestre, meu professor.
Que nunca esqueças as vezes em que caminhámos pelo caminho-de-ferro
Sob as estrelas ornadas e as luas antigas.
Essa tua idade provecta
Fez parecer que o tempo passou como um dente-de-leão
Consumindo-se no céu.
Não esqueças o mundo de sonhos,
Lembra-te que foi por ele que vivemos,
Foi por ele que esquecemos a carantonha,
Foi por ele que suámos,
Por ele deixámos o fantascópio e começámos a olhar sem venda.
As coisas que perdemos ou que simplesmente deitámos fora já não importam.
Que ninguém nos culpe
por queremos ser o gnomo, a ondina, o silfo e a salamandra ao mesmo tempo.
É que o tempo ressumou
E poucas vezes tive a coragem de dizer que te amo.
Lazarus- Porcupine Tree
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Estação das Sombras
Criada como uma insónia nas marés do desalento
Onde o fogo incendeia os cantos sob a sombra,
Dispersos no eco de um grito que pranteia a eternidade
Cantando a uma só voz…
O espelho planta a renúncia sobre as raízes de um corpo
Que se abre entre fragmentos de Santíssima Trindade
E as folhas tombam sobre os túmulos desertos
Como esqueletos vazios que divagassem entre a luz
E se quedassem como hinos na partitura do abismo.
A noite devaneia entre as dispersões do mínimo,
Mergulhada entre os oceanos do cosmos primordial,
E o gelo tomba nos braços da árvore desfalecida
Que invoca o grito nos espectros da bruma apagada
E transparece no ritmo das harmonias do caos.
E o fogo desata os corpos num requiem de deserdados,
Sinistra procissão de passos até às lágrimas do ser,
Como um sol que se rasgasse até às entranhas da obsessão
Errante debaixo dos véus de uma actriz martirizada
E plantada sobre a cova adormecida entre ninguém
E o abraço do absoluto num arco-íris cinzento.
Imolada à insaciável fome dos céus desertos
Em lágrimas de chuva banhando o sangue da terra.
Onde o fogo incendeia os cantos sob a sombra,
Dispersos no eco de um grito que pranteia a eternidade
Cantando a uma só voz…
O espelho planta a renúncia sobre as raízes de um corpo
Que se abre entre fragmentos de Santíssima Trindade
E as folhas tombam sobre os túmulos desertos
Como esqueletos vazios que divagassem entre a luz
E se quedassem como hinos na partitura do abismo.
A noite devaneia entre as dispersões do mínimo,
Mergulhada entre os oceanos do cosmos primordial,
E o gelo tomba nos braços da árvore desfalecida
Que invoca o grito nos espectros da bruma apagada
E transparece no ritmo das harmonias do caos.
E o fogo desata os corpos num requiem de deserdados,
Sinistra procissão de passos até às lágrimas do ser,
Como um sol que se rasgasse até às entranhas da obsessão
Errante debaixo dos véus de uma actriz martirizada
E plantada sobre a cova adormecida entre ninguém
E o abraço do absoluto num arco-íris cinzento.
Imolada à insaciável fome dos céus desertos
Em lágrimas de chuva banhando o sangue da terra.
sábado, 4 de abril de 2009
CLAVE
Barra final,
Marcaste o fim da minha composição.
Cesura entre nós os dois.
Convalescença de alma.
Tudo o que passou, tudo o que já foi transcrito
Perdeu o seu cordão umbilical.
O que é feito das vezes em que nadámos no Letes
Despreocupados do tempo que escumava,
Do tempo que nos tornava ingénuos?
Éramos sibilas,
Virgens,
Cupidos de flechas infrutuosas.
Passos enodoaram os caminhos,
O trinitariarismo descobriu-se sem pai, sem filho e sem espírito santo.
Sail away
Pequeno barco-fantasma,
Serreando num cerúleo profundo.
Sirena de canções hipnotizantes,
Vamos brincar à mímica,
Fazer de conta que não és apenas o meu amigo imaginário.
Adeus insurgido corvo,
Adeus frágil borboleta,
Adeus puerilidade,
Adeus quimera de utopia.
Fecharam-nos a todos na sala dos espelhos
E no entanto só a minha imagem se reflecte
Enquanto coarctamos e ofegamos por um pouco de ar.
*
Avelhentado piano,
Esquecida boneca de trapos,
Dado lançado ao abysmo,
Retrato sem cor,
Relógio sem corda.
Pedra, papel ou tesoura?
Somos todos górgonas destruídos pela própria imagem.
Lira e plectro,
Dançantes oressas,
Grinaldas e clavas,
Poetas,
Figuras veladas,
Hymnos,
Somos tudo e somos nada,
Somos passado, presente e futuro.
SOMOS E NÃO SOMOS.
Além bóreas,
O sol aquece-nos 24 horas por dia,
Lemúria reveste-se…
Dá cor ao ouro.
Voamos em espaço interestelar,
Aqui consegue-se tocar no éter
E lá em baixo tudo nos parece claro e simples.
Pervasive Healing-ThanatoSchizO
Marcaste o fim da minha composição.
Cesura entre nós os dois.
Convalescença de alma.
Tudo o que passou, tudo o que já foi transcrito
Perdeu o seu cordão umbilical.
O que é feito das vezes em que nadámos no Letes
Despreocupados do tempo que escumava,
Do tempo que nos tornava ingénuos?
Éramos sibilas,
Virgens,
Cupidos de flechas infrutuosas.
Passos enodoaram os caminhos,
O trinitariarismo descobriu-se sem pai, sem filho e sem espírito santo.
Sail away
Pequeno barco-fantasma,
Serreando num cerúleo profundo.
Sirena de canções hipnotizantes,
Vamos brincar à mímica,
Fazer de conta que não és apenas o meu amigo imaginário.
Adeus insurgido corvo,
Adeus frágil borboleta,
Adeus puerilidade,
Adeus quimera de utopia.
Fecharam-nos a todos na sala dos espelhos
E no entanto só a minha imagem se reflecte
Enquanto coarctamos e ofegamos por um pouco de ar.
*
Avelhentado piano,
Esquecida boneca de trapos,
Dado lançado ao abysmo,
Retrato sem cor,
Relógio sem corda.
Pedra, papel ou tesoura?
Somos todos górgonas destruídos pela própria imagem.
Lira e plectro,
Dançantes oressas,
Grinaldas e clavas,
Poetas,
Figuras veladas,
Hymnos,
Somos tudo e somos nada,
Somos passado, presente e futuro.
SOMOS E NÃO SOMOS.
Além bóreas,
O sol aquece-nos 24 horas por dia,
Lemúria reveste-se…
Dá cor ao ouro.
Voamos em espaço interestelar,
Aqui consegue-se tocar no éter
E lá em baixo tudo nos parece claro e simples.
Pervasive Healing-ThanatoSchizO
sábado, 14 de março de 2009
Apresentações do livro "Dualidades"
Porque afinal foi mesmo disto que nasceu o blog... Dia 7 de Abril, estão convidados!
domingo, 8 de março de 2009
Deixa-me Desistir de Ti
Deixa-me desistir de ti
Como num encontro repetido entre penas de mil eras
E traçado em véus de fumos mutilados,
Para esquecer que te dei a alma de todos os meus sonhos
E a força de toda a vontade
Na concretização de uma visão que mão me pertencia.
Será o silêncio a minha promessa,
O vazio como futuro
De quem deixou as asas rasgadas no chão,
E apenas a noite alcançará a minha voz amordaçada
Nos primórdios do poema.
Não sou ninguém…
Nada mais que o pálido reflexo de um espelho estilhaçado,
Um grito no amanhecer
E as lanças dos meus dedos estendem o sangue da derrota
Que estrangula o meu olhar.
Deixa-me, pois, morder as cinzas que ensombram os meus lábios
E morrer dentro da cruz,
Como um corvo em voo de hecatombe
Rasgando os céus da última alvorada,
Um sonho aberto à lâmina dos deserdados,
Um cântico na morte…
Para que vejas a renúncia que floresce nos meus olhos
E me deixes desistir
De mim.
Como num encontro repetido entre penas de mil eras
E traçado em véus de fumos mutilados,
Para esquecer que te dei a alma de todos os meus sonhos
E a força de toda a vontade
Na concretização de uma visão que mão me pertencia.
Será o silêncio a minha promessa,
O vazio como futuro
De quem deixou as asas rasgadas no chão,
E apenas a noite alcançará a minha voz amordaçada
Nos primórdios do poema.
Não sou ninguém…
Nada mais que o pálido reflexo de um espelho estilhaçado,
Um grito no amanhecer
E as lanças dos meus dedos estendem o sangue da derrota
Que estrangula o meu olhar.
Deixa-me, pois, morder as cinzas que ensombram os meus lábios
E morrer dentro da cruz,
Como um corvo em voo de hecatombe
Rasgando os céus da última alvorada,
Um sonho aberto à lâmina dos deserdados,
Um cântico na morte…
Para que vejas a renúncia que floresce nos meus olhos
E me deixes desistir
De mim.
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
Coração de Corda
Canta na negrura das horas que envolvem o véu do sonhar,
Como cordas de violino que deslizassem sob os meus dedos,
Compondo sinfonias de dolorida lamentação.
Canta, negro coração, na melodia da eternidade,
Do tempo que quase parece consumir os teus sentidos
No debater sangrado de um pulsar de debilidades
Encarceradas no místico silêncio dos tempos mortos
Do quase divino clamor no contraponto da tua composição.
Canta, como se a suave pressão dos dedos
Estrangulasse as cordas da tua respiração,
E sussurra ao início dos tempos o eco da tua melodia
Aprisionada em sepulcro de gemidos sufocados,
Mas divinizada em sacrário de infinita exaltação.
Canta, coração de corda, destruído e esfrangalhado.
A tua memória não morrerá em vão.
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